Mindfulness: Benefícios, SIM! E efeitos secundários?

Artigo Publicado na revista Online EsmeraldAzul

 

24 Agosto de 2015

 

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As intervenções baseadas no mindfulness como o programa psicoeducativo MBSR – Mindfulness para Redução de Stress e Desenvolvimento Emocional – e o MBCT – Terapia Cognitiva baseada no Mindfulness - estão cada vez mais populares tanto a nível nacional como internacional. Por exemplo, em Inglaterra o Serviço Nacional de Saúde inclui a intervenção do mindfulness (MBCT) no plano para utentes que sofrem de depressão dado os seus efeitos positivos na redução da depressão em 44%. Esta percentagem é semelhante á utilização de medicamentos anti-depressivos.

 

 

Nestes programas regista-se uma procura crescente de pessoas com queixas de ansiedade, depressão e elevados níveis de stress e, sem dúvida, que os resultados apontam para melhorias significativas nestes parâmetros psicológicos, assim como o desenvolvimento de ferramentas internas para lidar com mais discernimento, confiança e equilíbrio interno com os desafios do dia a dia.

 

Várias décadas de estudos científicos demonstram os benefícios associados ao mindfulness, não só em termos psicológicos, mas como em situações de patologias físicas como cancro, fibromialgia, dor crónica, hipertensão, síndrome do cólon irritável, etc. (mais informação aqui)

 

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Mas e efeitos secundários? Há efeitos secundários associados a estas intervenções? Sim, claro! Costumo partilhar com os alunos que participam nos programas de mindfulness no Ser Integral: Centro Português de Mindfulness, que alguns dos efeitos secundários passam por processos associados a um maior auto-conhecimento: identificação de padrões mentais e emocionais, paradigmas limitadores e impulsos internos para implementar mudanças na vida.

 

 

As intervenções baseadas no mindfulness são programas eficazes porque mexem com várias estruturas internas da nossa psique ao convidarem-nos a observar as nossas emoções, pensamentos e experiência corporal do momento presente. Ao obtermos mais consciência destes padrões mentais e emocionais podem ocorrer curas a vários níveis, mas por vezes a cura pode trazer consigo processos internos fortes. Como diz Lokhadi um professor de mindfulness em Londres poderá haver “uma sensação de sentir que as coisas ficam piores antes de elas melhoram”.

 

 

No Ser Integral já tivemos várias pessoas, ao longo de 8 anos de ensino, a relatarem esta mesma experiência de sentirem que “algo piorou antes de melhorar”, que muitas vezes se assemelha a processos que acontecem em contexto de consulta psicoterapêutica. Este “piorar” não é nada de assustador, mas antes faz parte da tomada de consciência da nossa experiência interna. É um encontro connosco próprios no aqui e agora.

 

 

A sugestão dos especialistas nesta área, apresentado num artigo recentemente publicado pelo The Guardian, é que os programas psicoeducativos de mindfulness (ex. MBSR e MBCT) devem ser apresentados por professores qualificados e com experiência na área para que a integração destes processos seja feita de uma forma saudável. Nesse mesmo artigo, em entrevista com vários especialistas na área de Mindfulness, são partilhados alguns alertas indicando que, assim como benefícios, há alguns casos raros registados com efeitos secundários menos benéficos durante as intervenções mindfulness (como por ex. despersonalização). Alguns destes efeitos resultam em contexto de ensino por “professores de mindfulness com pouca qualificação e que se apresentam como especialistas da área” e normalmente até é mais comum em contextos de retiros de silêncio de meditação de várias semanas.

 

 

Estes alertas não são apresentados por profissionais críticos ou contra as intervenções de mindfulness, mas antes por profissionais da área (alguns deles pioneiros nesta área de intervenção) com longos períodos de formação e anos de experiência no ensino destes programas como é o caso da Dr. Florian Ruths consultora em psiquiatria no Hospital Maudsley no Sul de Londres, Dr. Rebecca Crane diretora do Centro de Mindfulness para Investigação e Prática da Universidade de Bangor e Dr. Marie Johansson do Centro de Mindfulness da Universidade de Oxford.

 

 

Dr. Florian Ruth afirma que “Há muito entusiasmo nas terapias baseadas no mindfulness e elas são intervenções muito fortes... mas que podem ter efeitos secundários. O mindfulness é apresentado a pessoas com vulnerabilidade para doenças mentais como depressão e ansiedade, por isso precisa de ser ensinado por pessoas com conhecimentos básicos sobre estes diagnósticos, e que saibam quando devem referir as mesmas a especialistas para obterem ajuda”. Na experiência que temos no Ser Integral: Centro Português de Mindfulness nos programas de Mindfulness de Redução de Stress e Desenvolvimento Emocional é observada a necessidade de conhecimento neste âmbito (psicológico/psicopatológico/emocional), em particular em casos de pessoas que nos surgem com depressão, ansiedade, síndrome pós-traumático, síndrome de pânico, processos de luto, doenças crónicas dado os processos internos de aprendizagem que são despoletados durante o programa e que muitas vezes solicitam do professor/instrutor de mindfulness orientação apropriada e referência para um acompanhamento terapêutico quando necessário. É necessário, igualmente, sensibilidade por parte do professor de mindfulness de identificar e explorar com a pessoa interessada, se o momento presente é o mais indicado para participar no programa de mindfulness, dado que algumas condições internas e externas poderão não ser as mais adequadas para iniciar este processo. Normalmente, este processo ocorre na sessão de orientação ou contato individual para avaliação do contexto atual da pessoa interessada antes do programa iniciar.

 

 

Esta preocupação não surge únicamente no contexto de programas de mindfulness. Em algumas linhagens de meditação, como é o caso da Meditação Vipassana (S. N. Goenka), que normalmente apresenta retiros de 10 dias de meditação em silêncio, é solicitado o preenchimento de um questionário sobre o contexto atual de saúde incluindo alterações a nível de saúde mental. Pessoas que apresentem alterações a nível emocional, como ansiedade e depressão, não são aceites no retiro e é sugerido que haja uma maior estabilidade emocional para avançar com o retiro em datas futuras.

 

 

Igualmente, em alguns retiros de mindfulness em Inglaterra já se coloca como pré-requisito para inscrição que os inscritos não apresentem alterações a nível emocional ou tenham recentemente experienciado um evento significativo (negativo/traumático) exatamente para que o processo de meditação – que é um processo de auto-observação interna - não amplie estas alterações emocionais. Isto porque o contexto em que estes retiros são apresentados não contemplam a possibilidade de apoio a nível emocional/psicológico.

 

 

A Dr. Rebecca Crane, diretora do Centro de Mindfulness para Investigação e Pratica da Universidade de Bangor indica que “É preocupante, as pessoas completam a formação de professores durante uma semana e muito rapidamente são colocados sobre pressão a ensinar”. Na mesma linha, a Dr. Marie Johansson do Centro de Mindfulness da Universidade de Oxford aponta para a “importância de uma formação apropriada de pelos menos 1 ano até que os profissionais de saúde possam ensinar meditação, em parte porque em algumas ocasiões raras pode suscitar experiências difíceis”. E vários especialistas das Universidades de Oxford, Bangor e Exeter esperam que os professores de mindfulness completem formações de pelo menos um ano e se mantenham em supervisão com professores séniores de mindfulness.

 

 

Neste contexto, no artigo do The Guardian, é sugerido que no momento de escolher um programa de mindfulness as pessoas interessadas obtenham informação da formação do professor, onde e quando completou a formação, qual a duração da formação e se completaram supervisão durante a mesma. É igualmente importante que os professores tenham prática pessoal de meditação – “os mais reputados cursos de formação de professores de mindfulness solicitam que os profissionais tenham pelo menos dois anos de prática de mindfulness e cumpram outros critérios essenciais para ensinarem estes programas” diz Lokshadi (professor de mindfulness em Londres). A prática pessoal de mindfulness é um pré-requisito para quem está interessado em ensinar o mindfulness, mas por si só não concede a formação necessária para ensinar estes programas psicoeducativos de mindfulness.

 

 

O mindfulness é, sem dúvida, uma intervenção com efeitos extremamente positivos e, no Ser Integral: Centro Português de Mindfulness, tivemos a oportunidade de, ao longo de 8 anos, observar estes efeitos não só ao longo das sessões, mas igualmente com as avaliações psicológicas que completamos pré- e pós- intervenção que nos permite observar alterações objetivas em parâmetros psicológicos e do mindfulness.

 

É importante haver responsabilidade, ética e dedicação no ensino do mindfulness por todo o processo interno que testemunhamos ao longo da aprendizagem com os alunos. Um processo que resulta sempre no cultivo de ferramentas internas para lidar com os desafios da vida quotidiana.

 

 

Carla Martins

Ser Integral: Centro Português de Mindfulness

 

http://www.theguardian.com/society/2014/aug/25/mental-health-meditation

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